terça-feira, 21 de julho de 2009

Grafite em série, parte 1

Hoje e nos próximos 3 dias, vou apresentar uma série de reportagens que fiz sobre grafite. As matérias contam a história do grafite, como surgiu, a evolução, o mercado de trabalho, o que pensam os teóricos sobre isso e o principal: quem faz o grafite, os personagens dessa arte.
Enfim, é uma ótima chance de você conhecer mais sobre o grafite. Esse desenho que certamente você já viu na sua cidade.
As ilustrações de hoje são de um grafiteiro de São Gonçalo, Vinícius, mais conhecido como Siri.

Dos guetos americanos a favela brasileira
A história do grafite pelo mundo

Arte, segundo o dicionário Aurélio, “é a capacidade que tem o ser humano de pôr em prática uma ideia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria”. É, também, “uma atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação”.

Renovação é o que busca a arte do grafite. Uma arte urbana, que surgiu nos guetos americanos, no final dos anos 1960 e início de 1970. Surgiu contestadora do racismo, da exclusão dos negros na sociedade americana. Até que o movimento cruzou o continente e veio aportar aqui no Brasil, nos anos 1980. Aos poucos conquistou respeito e espaço, tanto nas galerias quanto nas ruas, que é sua essência.

Segundo a historiadora e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luciana Lombardo, o surgimento do grafite pode ter origens pré-históricas. “O homem das cavernas já pintava nas paredes. Desenhava sobre suas caças, as formas de plantar, mulheres e etc. Isso é o antecedente do grafite e do piche”, esclarece Lombardo.

O grafite atual é um braço da cultura Hip Hop, que é dividida em quatro: música, dança (mais conhecido como break), pintura e o duelo de rimas (que é uma forma de poesia). Para Alex Silva, na “pista” conhecido como Pluto, a cultura Hip Hop tem atravessado fronteiras e se expandido pelo basquete de rua e no Rap. Pluto é biboy, e biboy é aquele que dança break. Nas horas vagas também ataca de grafiteiro pelas ruas de São Gonçalo.


Grafite, a arte do protesto

O mais célebre grafiteiro é Jean Michel Basquiat, que no final dos anos 1970 encheu as ruas de Nova Iorque com protestos em forma de arte. Basquiat deixava mensagens pelos prédios abandonados de Manhattan e chamou atenção da imprensa por isso. Mas tarde ganharia o status de neo-expressionista e exposições pelo mundo.

No ano 1968, em Paris, o grafite fez parte da revolução. Estava lá, gritando nas ruas. Não era apenas em forma de desenhos, mas principalmente com palavras e frases de ordem. Era muito usado o stencil pelos jovens estudantes, que é um formato de pichação, uma espécie de fôrma já desenhada que o artista só preenche. Também participou da queda do socialismo na Alemanha. As pinturas escancaravam a insatisfação do povo e incitava a contestação do regime, até que o Muro de Berlim enfim caiu. “O grafite estava do lado ocidental, do lado democrático, porque na Alemanha Socialista não havia possibilidade de protestos dessa forma. Era um sistema repressor”, diz Luciana Lombardo.


Chegando ao Brasil, o grafite não perdeu essa essência contestadora. Nos muros das favelas ele protesta. “Só é grafite se for no muro”, diz Diógenes Borges, grafiteiro gonçalense. Genê, como Diógenes assina, completa: “Quando você pinta, você se comunica. A cor fala. E o grafite é a linguagem dos excluídos”.

Apesar da essência de rua e ideologia contestadora, o grafite ocupa cada vez mais as galerias de arte pelo mundo. Mas isso, de forma alguma, desmerece o talento desses artistas urbanos.


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