quinta-feira, 23 de julho de 2009

Grafite em série, parte 2

E hoje é dia da segunda reportagem da série grafite. Para quem ainda não viu a primeira, ainda da tempo. Veja a primeira reportagem da série!
As ilustrações ficam por conta de Diógenes Borges, o Genê.
A diferença entre grafite e Piche
A evolução da pichação em busca de reafirmação

Apesar do crescimento do grafite, ainda há muita confusão entre essa arte urbana e o piche. É difícil falar nessa diferença, pois os dois são manifestações de origem comum e utilizam o mesmo material e suporte para manifestar-se, que é a paisagem urbana. Grafitar é muito mais complexo que a pichação. Exige mais habilidades, mais empenho, há mais cores e elementos gráficos. O piche é mais uma demarcação de território, com letras estilizadas, monocromáticas e é tratado pela polícia como um ato criminoso.

Segundo o antropólogo da USP, Alexandre Barbosa Pereira, “o que acontece é que houve uma distinção externa muito forte entre piche e grafite. Pois este último foi mais enquadrado dentro do campo das artes plásticas e visto, portanto, como algo mais nobre. Enquanto, à pichação restou a classificação como sujeira, depredação e vandalismo”, explica o estudioso.

De fato, quem prática o desenho com spray não diferencia um do outro. Vinicius Pereira, que assina Siri em seus desenhos, diz que a maioria dos grafiteiros começou com a pichação. Siri começou no piche quando tinha 12 anos, hoje tem 26 e seu negócio é apenas grafitar. “Todo moleque passa por essa fase”, brinca o artista.


Sem identificar o transgressor, Alex Silva, o Pluto, conta um caso atípico no mundo da pichação. Pluto também já fez algumas assinaturas ilegais, mas hoje se dedica ao Hip Hop e, nas folgas, ao grafite.
- Tem uma rivalidade entre os pichadores. Quem chegar mais alto, for ao lugar mais difícil e tiver seu nome espalhado por mais lugares é o melhor. Tem um senhor, com mais ou menos 40 anos, que voltou a pichar. Aí ele sai de casa de carro, na madrugada, pichando. Não sobra para mais ninguém! – diz, em sigilo, Pluto.

Para a psicóloga Renata Dzu, esse fascínio exercido pela pichação é fruto da falta do que ela chama de marcas simbólicas e pela busca da adrenalina do perigo. “Os jovens modernos não tem referências suficientes. Daí as tatuagens e os piches. São essas marcas que constroem um indivíduo. Precisamos de marcas simbólicas”, diz Dzu.
A evolução do piche

A linguagem do piche tem evoluído. Antes eram apenas assinaturas, referências ao grupo de cada um. Agora, segundo Siri, “piche também é arte. Quando se cria um personagem e só faz aquilo, é um modo de pichação moderna”. Ainda há o bomber, que é uma assinatura em letra cheia, com duas ou mais cores, um meio termo entre o piche e o grafite.

Por melhor que seja a pichação, quem sofre o delito nunca fica satisfeito. Patrícia de Melo, 47 anos, mãe do adolescente Patrick, acha ridículo quem faz esse tipo de vandalismo. Os muros da casa simples, onde ela mora com o marido e mais três filhos em São Gonçalo, estão pichados.
- Uma noite vi uns meninos na minha janela, subindo de escada. Dei um grito. Eles não vem armados nem nada, só para pichar mesmo. Mas é assustador. Uma vez a polícia pegou os garotos e jogou no valão. Pintaram os meninos com o spray, foi uma forma de vingança – conta Patrícia.

Na casa ao lado mora José de Oliveira, que passa cal nas paredes a cada vez que sofre esses ataques. Mas nem todos são pacientes como “Seu Zé”, Irineu Cardoso, de 51, já desistiu de ter os muros limpos. Na casa de dois andares onde mora, os piches novos se misturam com os velhos deixando um ar sujo na residência.

Mas a revolta não se expande ao grafite. “O grafite é bacana”, resume Patrícia de Melo. É fácil reparar na maior tolerância aos grafiteiros. Enquanto há nos muros da cidade a frase “reservado para pichador amador”, numa tentativa de evitar o ataque da pichação, outros pedem que suas paredes sejam desenhadas pelos artistas urbanos, os grafiteiros.

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